A primeira vez que ouvi o termo fake, palavra da língua inglesa que significa falso ou falsificação, foi quando a vendedora de uma loja de roupas me ofereceu uma jaqueta de couro fake, como opção mais barata e politicamente correta a uma mesma peça feita de couro natural. Na tv pipocavam as reportagens mostrando os protestos feitos por modelos, artistas em geral e anônimos contra a morte de milhares de animais para que suas peles se tornassem peças valiosíssimas do vestuário e dos closets de quem estivesse disposto a desembolsar grandes quantias por eles. E então, virou moda usar pelo fake, couro fake, joia fake… Economia e preservação da natureza. Gostei. Muito bom! O tempo passou, o mundo “evoluiu” e hoje fake se tornou algo muito além da economia e do politicamente correto. O fake invadiu a personalidade das pessoas. Encorajadas pela pseud. segurança que as redes pessoais oferecem, muitas pessoas usam perfis fakes para vigiar, impressionar, atormentar, fraldar, seduzir… O fake assumiu um poder quase infinito. Serve a variados propósitos. Quer causar ciúmes a um(a) ex namorado (a)? Está precisando acabar com a pressão exercida por amigos e/ou familiares? Gostaria de se tornar mais popular ou quer impressionar seus amigos? Para qualquer um desses objetivos, pode-se alugar um(a) namorado(a) fake no Facebook, por exemplo. Você pode, inclusive, escolher entre os planos oferecidos: ficante, namorado(a), namorado(a) virtual ou namorado(a) top, que variam de preço e durabilidade. Pode também, em muitos sites especializados, fazer fotos fakes, incluindo pessoas, lugares, acessórios… Também pode bisbilhotar todo mundo, usando um perfil falso em redes sociais. Construir um perfil fake é como criar um personagem cênico, cujo palco é a virtualidade. Pode-se dizer que para tal, usa-se uma máscara high tech. É como se o indivíduo, naquele momento, tivesse suspensa a sua própria identidade e criasse uma identidade temporal. Talvez insatisfeito ou até envergonhado de sua identidade, por ainda talvez, pensar que não atende às novas exigências sociais, que proclamam a todos a terem sucesso, a serem magros, usar o celular, a bolsa, a roupa da moda, a visitar os melhores lugares, desfrutarem as melhores comidas e bebidas, as baladas mais concorridas, esse sujeito dá seu jeito: usa o fake para, ao menos em parte, satisfazer aos outros muito mais que a si mesmo. Perde-se em seu frágil objetivo de ser o mais popular, famoso, desejado. Vivendo uma vida mais pautada no virtual que no real, chega a sofre de FOMO (Fear Of Missin Out), o medo de ficar por fora do que está acontecendo o tempo todo. Passa a semana inteira esperando a sexta-feira chegar. Esquece sua própria vida para viver a de um outro, criado por ele, mas que jamais assumirá realmente o seu lugar. O fake pode ser muito divertido, pode pregar peças, pode preencher momentaneamente vidas vazias, mas pode também acinzentar a vida real de quem tem nos frágeis laços invisíveis das redes sociais, sua principal fonte de relações interpessoais. Para essas pessoas, é bom lembrar que é melhor curtir que postar, melhor o real que o falso, enquanto há tempo para viver uma vida de verdade, ainda que sem tanto sucesso, com uns quilinhos a mais, nem tão na moda assim, mas comendo, bebendo e badalando com amigos e amores e carne e osso.