O consumismo infantil é uma realidade e um problema de todos. Os olhares de pais, educadores, agentes do mercado global, estão voltados para a infância. Os pais e educadores, preocupados com o futuro das crianças, enquanto o mercado global se volta para o lucro produzido por elas, consumidoras em formação, que influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience, outubro de 2003). Elas palpitam na compra de alimentos, roupas, carros, eletrodomésticos, quase tudo dentro de uma casa, além, é claro, de brinquedos. A mídia usa todo o seu poder de persuasão para seduzir o público infantil, trazendo-o, cada vez mais cedo, para o universo adulto das complexas relações de consumo sem que esteja efetivamente preparado para isso. As crianças são um importante alvo, também, porque, desde cedo, tendem a ser mais fieis a marcas e ao próprio hábito consumista, que lhes tem sido praticamente imposto. Os pais devem estar alertas: as crianças vivem uma fase importante do desenvolvimento e, são atingidas cada vez mais precocemente pelas graves consequências deixadas pelo consumismo exagerado. A obesidade infantil, a erotização precoce, o consumo precoce de tabaco e álcool, o estresse familiar, a banalização da agressividade e da violência, estão entre os principais danos deixados por uma postura impulsiva e desenfreada frente ao desejo e ao consumo. Com a filosofia disseminada do “compre, que você será melhor” a criança vai deixando de ser criança, deixa de brincar, de percorrer espaços, imaginar, criar e construir – partes fundamentais do seu desenvolvimento – tornando-se imaturas e retardando seu desenvolvimento. A questão não está relacionada apenas à esfera familiar, crianças que aprendem a consumir de forma inconsequente e desenvolvem critérios e valores distorcidos são de fato um problema de ordem ética, econômica e social. Centralizar todos os esforços no consumo é colaborar, diariamente, para a existência de um planeta doente e desequilibrado.
A boa notícia é que não se nasce consumista. O consumismo é um hábito mental moldado, um conjunto de valores e pensamentos que se tornaram característicos de nossa sociedade, é cultural. Não há distinção de poder aquisitivo, crença, gênero, nacionalidade ou faixa etária, todos somos muito estimulados a consumir de maneira inconsequente todos os dias, impactados pelas mídias de massa, sendo a mídia televisiva, com seus comerciais animados, a principal delas. O fato de a criança brasileira passar em média 5:22h por dia assistindo à tv aumenta sua exposição ao bombardeio de comerciais de produtos de todas as espécies. Diversificar suas atividades em casa e fora dela, desenvolver habilidades como paciência, moderação, organização e autocontrole é um bom começo para diminuir a pressão exercida pela mídia. De acordo com Severiano, a publicidade atua de forma a dar uma ideia infantilizada aos consumidores, onde existe sempre alguém “preocupado” em realizar seus sonhos. Concordo com a Bock, para quem o efeito disto é ainda mais devastador em crianças, que podem realmente acreditar que existe alguém que queira realizar seus sonhos por meio de produtos devido ao seu estágio de desenvolvimento, quando ainda não conseguem separar a imaginação da realidade. Como resultado de um desenvolvimento infantil amparado no consumo individualista, pode-se esperar cidadãos com um nível de stress cada vez mais elevado devido à frustração de não alcançarem o prazer que seus produtos consumidos ofereciam, unicamente voltado para ter seus desejos realizados e sem um pensamento crítico sobre a sociedade e, portanto relações líquidas e simuladas. O modelo familiar atual, em que os pais passam muito tempo envolvidos com o trabalho e outras atividades que excluem a presença das crianças, compõe outro aspecto que influencia sobremaneira o consumo entre os infantes. Como Souza, aceito a ideia de que para compensar a falta de tempo com eles, esses pais compram para seus filhos presentes que eles pedem. Mas consumir é um habito e como tal pode ser trabalhado. A educação de crianças e adolescentes para lidar bem com o dinheiro deve ser uma preocupação dos pais e educadores. Segundo a especialista em educação financeira Cássia D’Aquino, desde cedo deve-se começar a ensinar conceitos básicos, como estratégias para guardar dinheiro e para gastá-lo com moderação. A partir dos 8 anos, já é possível abrir uma conta bancária para a criança e explicar a ela como uma instituição financeira funciona.
- Diante da insistência da criança, seja firme, pois essa não sabe o que é melhor para ela.
• Oriente a criança que antes de gastar o dinheiro é necessário ganhá-lo.
• Deixe-a participar do dia a dia da família, indo às compras de supermercado. Negociando com ela, antes de sair, quais os produtos que serão adquiridos. - Imponha limites e controle o uso da televisão e da internet.
- Façam programas juntos que não envolvam consumo: jogos de tabuleiros, brincadeiras de rua, passeios a parques, bibliotecas e teatros, ler juntos, além de manter seus filhos longe da influência dos comerciais são atividades importantes para o desenvolvimento da criança.
- Converse com a criança sobre a verdadeira função da publicidade, que objetiva fazer com que ele compre produtos nem sempre necessários. E que para isso, muitas vezes, tentam criar hábitos e valores que não são saudáveis para uma criança.
- Estimule hábitos de alimentação saudáveis, como evitar alimentos industrializados consumir frutas e sucos naturais.
E não se esqueça de que, para acriança, PRESENÇA é sempre melhor que PRESENTE.